segunda-feira, 10 de março de 2014

Fernando Pessoa e Octavio Paz ou o mês de dois centenários

Octavio Paz (1914-1998)


Fernando Pessoa

Em Fernando Rei da Nossa Baviera, no capítulo que dedica ao que chama a fortuna crítica de Fernando Pessoa, Eduardo Lourenço assinala que «foi depois de o ter lido em francês que um poeta e ensaísta tão eminente como Octávio Paz escreveu o seu breve e magistral ensaio El desconocido de si mismo que se não é o primeiro na língua irmã da nossa será o primeiro a alcançar uma larga audiência». Desse magistral texto, Ler Eduardo Lourenço recupera o modo como o grande escritor mexicano (cujo centenário do nascimento se comemora este mês, tal como curiosamente o famoso dia triunfal de Pessoa) interpreta o drama em gente pessoano. «[Alberto] Caeiro, [Ricardo] Reis e [Álvaro de] Campos são os heróis de uma novela que Pessoa nunca escreveu. Sou um poeta dramático, confia em carta a João Gaspar Simões. No entanto, a relação entre Pessoa e seus heterónimos não é idêntica à do dramaturgo ou do romancista com as suas personagens. Não é um inventor de personagens-poetas mas um criador de obras-de-poetas. A diferença é capital. Como diz Casais Monteiro: Inventou as biografias para as obras e não as obras para as biografias. Essas obras – e os poemas de Pessoa, escritos perante, a favor da e contra elas – são a sua obra poética. Ele mesmo se converte numa das obras de sua obra. E nem sequer tem o privilégio de ser o crítico dessa coterie: Reis e Campos tratam-no com certa condescendência; o barão de Teive nem sempre o cumprimenta; Vicente Guedes, o arquivista, assemelha-se tanto que, quando o encontra numa taberna do bairro, sente um pouco de piedade por si mesmo. É o encantador enfeitiçado, tão totalmente possuído por suas fantasmagorias que se sente olhado por elas, talvez desprezado, talvez motivo de compaixão. As nossas criações julgam-nos».
Refira-se que Eduardo Lourenço escreveu também pelo menos outros dois textos sobre o autor de El desconocido de si mismo. Assim, por ocasião da consagração do escritor mexicano com o Prémio Nobel, o ensaísta português evocou “A hora e a vez de Octavio Paz” (Revista de Expresso, Lisboa, 20/X/1990, p. 93). Oito anos volvidos, na ocasião da morte de Paz, Eduardo Lourenço redigiu “Octavio Paz (1914-98). Vulcão tutelar” (Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 718, Lisboa, 22 /IV/1998, p. 2.