terça-feira, 28 de maio de 2013

Pensar Nove Décadas de Amizade (nº 82): Teresa Filipe*


Casa de Vence 
(Foto de Rui Jacinto)



[Escrita ao lado de Eduardo Lourenço]
Para a constelação de perplexidades onde o Tempo enquanto problema nos coloca não há caminhos nem guias prováveis. É como se se tratasse de um assalto à Existência, de onde verdadeiramente não se sai, talvez por isso lhe chamem Labirinto. Em tão lúcido-obscuro território, as palavras são rarefeitas. Daí que, quem por lá se aventure, se socorra de armas e poesias para tornar menos dura a travessia. «Felizmente, nas partes mais belas são inavegáveis», escreve Eduardo Lourenço na página 41 de Tempo e Poesia, como quem respira de alívio. Felizmente que a beleza que é poesia se instala no coração das coisas difíceis fazendo do silêncio o acto original.

Em tempos conturbados e complexos, como todos os tempos são, o encontro com um livro como o já citado Tempo e Poesia é sem medida e de consequências imprevisíveis. Tudo aí se suspende, joga, baralha e volta a dar, reordenando o que parece definitivo e, nesse acto, mostrando para sempre o paradoxo de todas as coisas. O enigma do Ser.
Parabéns, Professor!



*Teresa Filipe
Bolseira de Investigação no projecto de edição das Obras Completas de Eduardo Lourenço.