sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pensar Nove Décadas de Amizade (nº 69): José Régio*

 José Régio

Meu Querido Amigo:

Desculpe-me a esferográfica: Escrevo-lhe estas linhas de um bar da Póvoa, onde a esferográfica tem de ser o meu instrumento de trabalho... Há sossego, aqui, agora no Inverno, e o mar em frente. Que isto me incline à benevolência e à paciência.
Se fora necessário tal testemunho, a sua vibração e a sua revolta me daria a medida da sua estima pela minha poesia e da sua amizade pessoal. Obrigado, meu amigo (...). A minha poesia é que já não é só minha. Além da tão simpática intervenção da Matilde [Rosa Araújo], eu gostaria que o Cântico Suspenso tivesse uma crítica mais ... crítica, digamos; uma análise. Suponho que o [João] Gaspar Simões escreverá no Diário de Notícias, e o Óscar Lopes nO Comércio [do Porto]. Se quiserem fazê-lo, têm aí as suas tribunas. Lembrei-me, para A Capital, do Eduardo Lourenço, que se tem revelado um excelente crítico. Mas ele está longe, e sei lá se quereria escrever sobre a minha poesia! Não devo constrangê-lo em tal sentido (...).




*José Régio (Vila do Conde, 1901-1969). Escritor.
O texto que aqui se reproduz é um excerto de uma carta enviada pelo Autor a Álvaro Salema com a data de 20 de Janeiro de 1969 e que foi inicialmente publicada em Correspondência, Obras Escolhidas, volume décimo quinto, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, pp. 378-379. O livro Cântico Suspenso, editado muito pouco tempo antes, foi o último volume de poesia que José Régio publicou em vida.