quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pensar Nove Décadas de Amizade (nº 1): José Saramago*





José Saramago e Eduardo Lourenço (foto de Augusto Cabrita, Bruxelas, 1991)



3 de Novembro [1997]
Lisboa. Hotel Altis. Casa cheia, apesar da chuva. Apresentação de Todos os Nomes. Muito belas e inteligentes (novidade seria o contrário) as palavras ditas por Eduardo Lourenço. Uma frase sua que vai dar (dará?) discussão: «Todos os Nomes é a história de amor mais intensa da literatura portuguesa de todos os tempos.» É evidente que me agrada que uma pessoa com as responsabilidades de Lourenço tenha dito isto de um livro meu, mas adivinho que Camilo Castelo Branco, lá onde estiver, protestou indignado: «Então, e o Amor de Perdição?...» Talvez a diferença (menciono esta, não as outras…), esteja precisamente no teor, não na dimensão, de intensidade, que o nosso tempo afere de outra maneira e com outros instrumentos. Talvez. E tão-pouco vale a pena que me preocupe. O mais certo será cair a frase no esquecimento, e o próprio Eduardo Lourenço poderá confessar amanhã: «Realmente, exagerei um bocado…»



*José Saramago (Azinhaga do Ribatejo, 1922 - Tías, Lanzarote, 2010), escritor. 
O texto que aqui se reproduz foi publicado inicialmente em  Cadernos de Lanzarote. Diário, Vol. V, Lisboa, Caminho, 1998, pp. 193-194.