quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A confirmar!



Ler Eduardo Lourenço tem de reconhecer que uma das características mais aliciantes do projecto das Obras Completas consiste no desafio de tentar reunir tudo aquilo que o ensaísta, até hoje, escreveu (do muito que ainda está, felizmente, por vir à luz do dia não adianta obviamente falar...). Trata-se de uma tarefa imensa, para não dizer infinita. Mesmo que, por razões de método (e só por isso!), não se considerem agora os textos inéditos, a dispersão dos textos existentes implica uma cartografia que, quase todos os dias, obriga a que esta pesquisa quase de Sísifo se reinicie.
Sobretudo quando se encontra em Portugal, Eduardo Lourenço é constantemente solicitado para dar entrevistas, redigir prefácios a livros e/ou catálogos, a proferir palestras nos locais mais recônditos e inesperados. Por exemplo, ao endereço electrónico que figura no cabeçalho deste blog, e que (importa esclarecer isto, duma vez por todas!) NÃO é a caixa de correio de Eduardo Lourenço, que nem sequer é um habitual frequentador do universo cibernáutico, chegam uma quantidade impressionante de convites e propostas para realizar as mais variadas tarefas. Ora, a cada uma dessas solicitações referidas e aceites corresponderá, em princípio, um texto que, sendo escrito ou pelo menos gravado, mudará de estatuto: de inédito ou até inexistente (pois Eduardo Lourenço fala inúmeras vezes de improviso) passará a ser publicado. Por outro lado, há o que se poderia designar por pistas falsas. É o caso de quando Ler Eduardo Lourenço se depara com programas de colóquios como o que a seguir se reproduz:
 
Se se reparar, está prevista para as cinco da tarde do primeiro dia do colóquio uma sessão (a confirmar!!!) de quarenta e cinco minutos de Eduardo Lourenço. Mesmo desconfiando das ratoeiras da memória, Ler Eduardo Lourenço indagou junto de uma pessoa que participou há quase dez anos em Os Intelectuais e os poderes se a comunicação prevista chegou a realizar-se ou não. A resposta foi negativa (ou seja, Eduardo Lourenço não terá feito tal conferência), mas nem isso é cem por cento seguro. Pode ter havido sessão e o participante não ter assistido. Pode ter havido um impedimento de última hora e, como compensação, o autor ter enviado à organização um texto para ser lido por outra pessoa. Não seria nem a primeira, nem a segunda vez que tal sucederia. Pode até a organização nem sequer ter conseguido chegar à fala com Eduardo Lourenço que assim fazia parte do programa do Colóquio sem sequer saber que este iria realizar-se (esta hipótese parece claramente extravagante e portanto bastante difícil de imaginar neste caso concreto!). Também não seria uma situação única, pois há vários episódios idênticos. Enfim, a verdade é que, se houve texto falado ou escrito, não parece haver rasto dele. Mas poderíamos dar um outro exemplo.
Quando preparava a organização dos materiais inéditos e dispersos para o volume Tempo da Música, Música do Tempo (e de que em Maio passado foi publicado, por vontade expressa de Eduardo Lourenço, uma parte em edição da Gradiva), a investigadora Barbara Aniello encontrou uma referência a um intervenção que Eduardo Lourenço teria feito no dia 11 de Outubro de 1993 durante o


Festival Europeu da Música em Munique, actividade que recebeu o nome genérico de Europamusicale e da qual mais tarde se fez um catálogo. A sessão em que Eduardo Lourenço participou, segundo catálogo que  Ler Eduardo Lourenço consultou na Biblioteca Municipal da Guarda, estava programada do seguinte modo:
Para além da curiosa síntese biográfica em alemão de Eduardo Lourenço schriftsteller, descobre-se pela leitura destas páginas do catálogo que a sessão dedicada a Portugal compreendia, juntamente com a comunicação do ensaísta, um concerto em que a Orquestra Gulbenkian acompanhava o pianista Sequeira da Costa na execução de peças de Joly Braga Santos, Mozart, Rossini e João Domingos Bomtempo. Ao contrário do que sucede com outros autores que foram convidados a apresentar outros concertos, o texto de Eduardo Lourenço não consta do índice do catálogo, o que é naturalmente lamentável.
 

 
Mas não há dúvidas que Eduardo Lourenço esteve em Munique, pois um dos organizadores do evento e respectivo catálogo, Pankraz Frhr, ofereceu-lhe no dia anterior (10 de Outubro) este volume com a dedicatória que também aqui se reproduz. Não conseguindo até agora descobrir o texto de Eduardo Lourenço, fica pelo menos o consolo de se poder ouvir uma outra versão do concerto nº 21 de Mozart para piano e orquestra que abre este post.